Quando
pego nas minhas panelas estou procurando muito mais do que apenas cozinhar. Estou
em algum lugar tentando me conectar com as sutilezas das emoções mundanas,
tentando fugir da angustia de um trânsito pesado, do pesadelo das contas que
não param de chegar. Sabe caros leitores, não se pode ou deve cozinhar, assim...
Cheio de ansiedade, medo, raiva...
Comida
precisa de boas energias, pois quem senta na sua mesa quer alimentar a alma.
Portanto, cozinha é também um pouco de arte. Não pensem que é fácil, só porque
todas as avós tinham o melhor tempero do universo. É difícil ligar a chama do fogão quando não
há inspiração, quando a cozinha esta uma zorra e sua vida em pedaços. É
inviável competir com lembranças, porque o prato de ontem não é o mesmo de hoje
e o seu bolo de chocolate nunca será o da sua mãe. A comida da mãe, em geral, é
a melhor do mundo, só não é quando da avó sempre foi.
A
lembrança é também um elemento essencial para nós cozinheiros. É a bagagem
cultural, familiar, escolar que irá nos permitir uma consciência povoada de
representações e significados. É por isto que tem pessoas que conseguem
fornecer experiências mais completas de um universo com possibilidades que
podem levar o comensal para uma mesa cheia de vivência de outros povos. E viva
a globalização do creme Brulée, dos cheesecakes e brigadeiros!
Nas
muitas cozinhas que conheci tive uma nítida sensação que o real e o imaginário
andavam de mãos dadas. Por mais intensa e sensorial que tenha sido uma
experiência com um alimento ela se transformou a cada novo reencontro... O
ambiente diferente, o tempo de cocção, o estado de espírito do cozinheiro, os
amigos à mesa, a família em outro momento. As fronteiras entre o bom e o ruim são
tênues e até desastrosas. Nos nossos salões garanto que muitos podem gostar de
uma cozinha pelo simples shop gelado e a boa companhia do dia. A percepção da
boa comida não é universal. Aliás, o que é uma boa comida?
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