quinta-feira, 21 de março de 2013

O que é uma boa comida?


Quando pego nas minhas panelas estou procurando muito mais do que apenas cozinhar. Estou em algum lugar tentando me conectar com as sutilezas das emoções mundanas, tentando fugir da angustia de um trânsito pesado, do pesadelo das contas que não param de chegar. Sabe caros leitores, não se pode ou deve cozinhar, assim... Cheio de ansiedade, medo, raiva...

Comida precisa de boas energias, pois quem senta na sua mesa quer alimentar a alma. Portanto, cozinha é também um pouco de arte. Não pensem que é fácil, só porque todas as avós tinham o melhor tempero do universo.  É difícil ligar a chama do fogão quando não há inspiração, quando a cozinha esta uma zorra e sua vida em pedaços. É inviável competir com lembranças, porque o prato de ontem não é o mesmo de hoje e o seu bolo de chocolate nunca será o da sua mãe. A comida da mãe, em geral, é a melhor do mundo, só não é quando da avó sempre foi.

A lembrança é também um elemento essencial para nós cozinheiros. É a bagagem cultural, familiar, escolar que irá nos permitir uma consciência povoada de representações e significados. É por isto que tem pessoas que conseguem fornecer experiências mais completas de um universo com possibilidades que podem levar o comensal para uma mesa cheia de vivência de outros povos. E viva a globalização do creme Brulée, dos cheesecakes e brigadeiros!  

Nas muitas cozinhas que conheci tive uma nítida sensação que o real e o imaginário andavam de mãos dadas. Por mais intensa e sensorial que tenha sido uma experiência com um alimento ela se transformou a cada novo reencontro... O ambiente diferente, o tempo de cocção, o estado de espírito do cozinheiro, os amigos à mesa, a família em outro momento. As fronteiras entre o bom e o ruim são tênues e até desastrosas. Nos nossos salões garanto que muitos podem gostar de uma cozinha pelo simples shop gelado e a boa companhia do dia. A percepção da boa comida não é universal. Aliás, o que é uma boa comida? 

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