domingo, 30 de setembro de 2012

Outubro

Este é sim o último mês completo que passarei em Campos do Jordão, ao lado das panelas do Grande Hotel.  E foi nesta terra de sonhos, devido a sua beleza singular, que reencontrei várias coisas que haviam se perdido dentro de mim. Foi no mês de outubro do ano passado, na sala da minha terapeuta, que decidi que precisava mudar tudo o que conhecia. Queria um retiro espiritual, onde pudesse ficar em silêncio e assim entender o que tanto procurava.
Não foi fácil fazer 30 anos, quase me escondi debaixo da minha cama, para ver se eu conseguia me congelar nos 29.  Encontrei nas panelas, primeiro no cheesecakes e depois nos brigadeiros, a minha grande terapia. Horas e horas enrolando brigadeiro parecia mais agradável que às minhas 5 horas no jornal. Eu sempre amei ser jornalista, mas naquele momento até o jornalismo me parecia assim meio sem graça.
Eu estava em depressão, porque minha cama era o melhor lugar do planeta e a dor só passou depois do tratamento médico para a enxaqueca. Não queria sair, não queria ver pessoas e nem viver. Eu tinha 30 anos e o mundo parecia o contrário de tudo que havia imaginado. Estive acostumada a fazer planos e fazer com que eles se cumprissem. Podia parecer que tinha o melhor emprego do mundo, os melhores amigos e a melhor família.  Porém, eu não tinha a melhor Ana Carolina do mundo.
Estou agora cozinheira. Não sei bem o que isto significa, porque ainda continuo aqui escrevendo e desejando um pouco desta ânsia de ser jornalista.
Não é fácil estar cozinheiro, mas é bom estar neste mundo que ganhei por me permitir entrar dentro de uma cozinha. Pessoas, histórias, queimaduras, cortes, dramas, roncos, inquietação e uma série de sentimentos que pulsam perto das panelas.
Quando faltam 15 minutos para abrir um buffet o sangue das pessoas fervem no calor de uma cozinha e não custa nada para o chefe brigar, panelas caírem no chão e você pegar com as mãos uma panela quente. Foi nesta hora que percebi que estava curada do meu excesso de sensibilidade e de todo aquele drama que me levou para a psicanalista. Não precisava ter raiva, angustia e nem nada parecido, porque ficou chato, monótono e etc é só ir embora. Nada de esconder embaixo da cama e ficar reclamando.
Falta um mês para esta aventura que me permiti viver terminar. Isto significa que a vida de adulta vai voltar a bater na minha porta. Contas, contas e contas para pagar voltam a ser de total responsabilidade minha.
E o que  farei com tudo que aprendi aqui ? Eu ainda não tenho a resposta. A única coisa que sei é que quando chegar em Goiânia, em novembro, não saberei mais o que fazer. Porque o normal era que quando fosse 17 horas, eu estivesse no jornal, porém isto não existe mais.


Um comentário:

  1. Parabéns pelo ensaio. Mais ainda pelas novas descobertas dentro da cozinha... Beijo!

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