quarta-feira, 18 de julho de 2012

De Londrina para o mundo


Ana Carolina Guimarães
Para entender a alma de um cozinheiro primeiro você precisa descobrir o quanto é mágico cozinhar e deve antes de tudo arriscar e embarcar nas experimentações destes magos das panelas. Uma mistura inusitada de filé mignon com calda de chocolate, isto foi uma das realizações criativas do chef Milton da Silva Alfredo, de 40 anos, pai de uma menina de 9 meses, que é sua maior paixão na vida. Além disto, é também pai de coração de outros três garotos, filhos de sua atual companheira, com quem escolheu formar uma família. Um homem que foi por muito tempo sozinho e que encontrou nas panelas uma forma de transformar a vida em uma mistura de sabores, onde cada gesto o levou para um encontro definitivo com a cozinha.

Chef Milton da Silva Alfredo, no Senac, Campos do Jordão
O cozinheiro, que aprendeu a cozinhar ainda criança com a tia, em Londrina, no Paraná, entra calmo na cozinha e passeia por todos os setores, antes de ver quais são suas obrigações do dia. O chef tem como compromisso apertar mão por mão e olhar nos olhos de seus funcionários, num gesto de um bom dia sincero, seguro e amigo.  O chef Milton é o primeiro cozinheiro do Grande Hotel Campos do Jordão e foi ele que recebeu minha turma, a D-12, na cozinha do hotel.  Regras, dicas e muita firmeza, nem pareciam que aquele homem baixinho e simples carregava uma bagagem de conhecimento tão grande e uma experiência de vida emocionante.

O chef Milton embarcou rumo a São Paulo quando tinha apenas 14 anos, época que teve coragem o suficiente para passar quinze dias dormindo na rodoviária da cidade. Coragem e determinação é possível ainda ver em seus olhos, que brilham ao relembrar do prato de comida que foi oferecido por seu primeiro patrão, o dono da lanchonete Flash Lanches, que ficava na Avenida 7 de Abril, em São Paulo. “Cheguei na lanchonete e o patrão perguntou: - Tá com fome. Era lógico que estava”, explica Milton ao contar de suas primeiras horas, na maior metrópole brasileira.

Ser cozinheiro nos 80, não era nada glamouroso, e por isto mesmo descobrir que a cozinha era um dom natural demorou um pouco para Milton. Como ele mesmo explicou era difícil dizer para as pessoas sobre o seu trabalho. “Se alguém descobrisse que você trabalhasse na área de alimentação você era um zero a esquerda”, exemplifica o preconceito social da carreira. A situação não era como hoje em que as universidades de gastronomia aumentam e o cozinheiro ganhou status de celebridade, como no caso do aclamado chef Alex Atala.

 Nos anos 80 era mais fácil negar o talento e fugir para profissões mais convencionais.  “Eu comecei a fazer cursos. Fiz cursos de informática, trabalhei com telemarketing, com vendas em feiras e trabalhei com busca e apreensão de veículos. Era tudo ilusão, eu via aquele pessoal que se vestia bem e tudo, mas coitados eles não tinham nem o que comer. E gastava uma sola de sapato danada”, brinca Milton sobre sua carreira. O dom para a cozinha continuava e a oferta de empregos na área estava por toda a cidade e, por isto foi fácil retornar para a carreira.

Foi uma de suas patroas que o incentivou a fazer cursos de aperfeiçoamento profissional na área de gastronomia. Algo que poderia agregar valor para um jovem cozinheiro criativo que se mostrava para aquela senhora como um talento promissor.

Não foi só aquela senhora que viu tanto talento, depois de uma aula do Milton, para os hóspedes do hotel, é possível ver a alegria dos alunos em aprender a cozinhar com um cozinheiro do potencial do chef. São perguntas atrás de perguntas e muitos querendo suas receitas.
Continua amanhã ...

Um comentário:

  1. E a repórter Ana Carolina Guimarães entrou em ação! Adoro seus textos! Bela história a do Milton. Beijo e saudade!

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